© Revista Portuguesa de Pedagogia, 1996
Alferes, V. R., Barreira, C. F., Bidarra, M.
G., Boavida, J. J., Costa, J. J. M., Ferreira, A. G., Ferreira, J. A., Festas,
M. I., & Gaspar, M. F. (1996). Revista Portuguesa de Pedagogia: Domínios de
investigação, orientações metodológicas e autores em trinta anos de publicação.
Revista Portuguesa de Pedagogia, 30(3), 7-28.
Revista Portuguesa de Pedagogia:
Domínios de
Investigação, Orientações Metodológicas e
Autores em Trinta Anos de Publicação
Valentim Rodrigues Alferes, Carlos
Folgado Barreira,
Maria da Graça Bidarra, João José
Boavida,
José Joaquim Marques da Costa, António Gomes Ferreira,
Joaquim Armando Ferreira, Maria Isabel Festas e Maria Filomena Gaspar
Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação
Universidade de Coimbra
RESUMO
Analisam-se e classificam-se (por domínios de
investigação, orientações metodológicas, sexo, grau académico e afiliação dos
autores) os artigos publicados na Revista Portuguesa de Pedagogia, desde
1960, ano da sua fundação, até 1995.
Dos 449 artigos publicados, 44.1% são do
domínio da psicologia, 32.3% do domínio das ciências da educação, 18.3% do
domínio da psicologia da educação e 5.3% de outros domínios científicos. Em
termos de orientações metodológicas, 70.4% dos artigos são estudos teóricos ou
de revisão da literatura, 6.5% são estudos documentais e 23.2% estudos não
documentais (1.1% investigações experimentais, 0.9% investigações
quasi-experimentais e 21.2% investigações não experimentais). Os autores dos
artigos são maioritarimente do sexo masculino (76.4%) e as percentagens de
doutorados e de investigadores ligados à Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra são, respectivamente, 54.1% e 46.5%.
A evolução dos domínios de investigação, das
orientações metodológicas e das características dos autores são descritas em
função de cinco grandes períodos de publicação: 1960-63, 1971-75, 1976-81,
1982-88 e 1989-95. [p. 7]
ABSTRACT
The
articles published in Revista Portuguesa de Pedagogia from 1960, year of
its foundation, until 1995 are analysed and classified in terms of research
fields and methodological orientations, as well as of their authors’ sex,
academic degree and affiliation.
From
the 449 published articles 44.1% are concerned with psychology, 32.3% with
educational sciences, 18.3% with educational psychology and 5.3% with other
scientific domains. Regarding methodological orientations 70.4% of the articles
are theoretical and/or literature review studies, 6.5% are documental studies
and 23.2% non-documental studies (1.1% experimental researches, 0.9%
quasi-experimental researches and 21.2% non-experimental researches). The
authors of the articles are mainly males (76.4%) and the percentages of Ph.
Degrees and researchers affiliated to the Faculty of Psychology and Educational
Sciences of the University of Coimbra are, respectively, 54.1% and 46.5%.
The
evolution of the research fields, methodological orientations and authors’
characteristics are described according to five great periods of publication:
1960-63, 1971-75, 1976-81, 1982-88 e 1989-95. [pp. 27-28]
Completa-se com o
presente número o trigésimo volume da Revista Portuguesa de Pedagogia
(RPP). Fundada em 1960, a RPP esteve ligada ao Instituto de Estudos
Psicológicos e Pedagógicos da Faculdade de Le- [p. 7] tras da Universidade de Coimbra
(1960-63 e 1971-75) e ao Departamento de Psicologia e de Ciências da Educação
da mesma Faculdade (1976-1980), sendo, desde 1981, uma publicação periódica da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
(FPCE/UC) (1).
O presente artigo tem
como objectivo caracterizar os domínios de investigação, as orientações
metodológicas e os autores dos artigos publicados na RPP, desde 1960
até à presente data. Subsidiariamente, os dados aqui reunidos podem vir a
constituir um primeiro contributo para o estudo sistemático da produção
científica nacional nas áreas da psicologia e das ciências da educação.
MÉTODO
Base de dados
A base de dados em
análise é constituída por 449 artigos, publi- [p. 8] cados entre 1960 e 1995 (com o
interregno de 1964 a 1970, que marcou a separação entre a 1ª e a 2ª
série da RPP), distribuídos por 29 volumes, dos quais um é volume duplo
(1963), quatro incluem dois números (1960, 1961, 1962 e 1991) e quatro três
números (1992, 1993, 1994 e 1995). Os restantes volumes (1971 a 1990) não
comportam números separados. Excluíram-se da análise as notas introdutórias
e/ou explicativas das sucessivas Comissões de Redacção, as recensões críticas e
o «material» reunido na secção Vária (notícias de congressos,
conferências, provas e outros acontecimentos académicos e científicos;
legislação e outra documentação relevante para as instituições a que esteve
ligada a RPP). No conjunto, os 449 artigos ocupam 79.8% da totalidade das
páginas da RPP. [p.
9]
No Quadro 1, para além das datas de publicação e
dos volumes e números correspondentes, indicam-se o número de artigos, a
média de autores por artigo e a média de páginas por artigo para
cada uma das 41 unidades de publicação aqui consideradas (2). Para os nomes dos autores e títulos
dos artigos, o leitor pode consultar os índices incluídos neste número da RPP.
Categorias de
análise
Domínios de
investigação — A
categorização do conteúdo dos artigos publicados na RPP baseou-se em três
sistemas de classificação: o sistema de indexação do Psychological Abstracts
(Walker,
1994) — para a
área da psicologia —, o sistema de Mialaret (1976) — para a área das ciências da educação
— e o sistema da JNICT (1991) — para a totalidade dos artigos. As categorias de cada um dos sistemas são
as que constam nas colunas da esquerda dos Quadros 2, 3 e 4.
Orientações
metodológicas — Em relação
às metodologias adoptadas pelos autores da RPP, faz-se uma primeira distinção
entre estudos teóricos (incluindo os artigos de revisão e integração da
literatura científica) e estudos empíricos. Dentro desta categoria,
opera-se uma segunda distinção entre estudos documentais e estudos
não documentais. Os primeiros, também designados por estudos de traços (Ghiglione & Matalon,
1978),
constituem formas de «observação diferida» (incidindo sobre documentos,
estatísticas oficiais ou qualquer outro material previamente arquivado) e
distinguem-se dos estudos que implicam o contacto efectivo com os sujeitos ou
unidades de investigação. Por último, dentro destes (designados genericamente
por estudos não documentais), procede-se a uma terceira distinção, tendo como
critério a lógica interna do processo de investigação (i.e., o modo como são
validadas as hipóteses — cf. Alferes, 1997) e não as estratégias específicas de
recolha de informação (observação, entrevista ou questionário auto-administrado
— cf. De
Ketele & Roegiers, 1993). Mais exactamente, e adop- [p. 10] tando a conceptualização de Cook e Campbell (1979) , os estudos não documentais
são classificados em experimentais, quasi-experimentais e não
experimentais.
Com efeito, se nos
colocarmos no plano da validação das hipóteses científicas, as estratégias de
investigação classificam-se em função do grau em que permitem fazer
«inferências causais». De modo breve, dizemos que estamos perante uma investigação
experimental quando: a) fazemos variar sistematicamente as variáveis
independentes ou factores experimentais e b) controlamos todas as
variáveis situacionais (pseudofactores) e disposicionais (factores
classificatórios ou atributos dos sujeitos ou unidades experimentais) que
podem concorrer com os factores experimentais na determinação das variáveis
dependentes (efeitos).
Para concretizar a primeira
condição, o experimentador tem que ser capaz de criar/produzir a presumível
causa, i.e., tem que «realizar empiricamente» os diferentes níveis em
que se expressa a variável independente. Para concretizar a segunda
condição, o experimentador tem que constituir grupos equivalentes de
sujeitos (atribuindo aleatoriamente as unidades às condições experimentais ou
constituindo blocos homogéneos de sujeitos, procedendo, em seguida, à
distribuição aleatória dos sujeitos pelas condições dentro de cada bloco) ou
utilizar os mesmos sujeitos (planos de medidas repetidas) em todas as condições
experimentais, permutando aleatoriamente a ordem dos tratamentos. Ainda no
âmbito da segunda condição, o experimentador deve manter constantes ou
contrabalancear, através das condições, os pseudofactores.
Quando não é possível
recorrer a nenhuma das estratégias de controlo dos factores classificatórios
acima referidas (aleatorização completa, aleatorização por blocos ou utilização
dos mesmos sujeitos), o grau de validade interna da investigação vê-se
reduzido, uma vez que o investigador não pode garantir, em absoluto, que os
resultados obtidos se devem à «manipulação» dos factores experimentais e não às
diferenças individuais previamente existentes. Sempre que uma investigação não
controla as variáveis associadas aos sujeitos (v.g., utilizando grupos
naturais, previamente constituídos), sendo em todos os outros aspectos idêntica
às investigações experimentais (i.e., variação sistemática das variáveis
independentes e controlo eficaz dos pseudofactores), dizemos que estamos
perante uma investigação quasi-experimental. Por [p. 11] último, nas situações em que um
investigador quer conhecer a relação existente entre duas ou mais variáveis,
mas não pode manipular as presumíveis causas (ou porque são variáveis
organísmicas ou porque qualquer razão de ordem ética ou técnica o impede),
quaisquer que sejam os métodos de recolha e análise dos dados, estamos perante
uma investigação não experimental ou correlacional. Os ex post facto
designs (investigações em que factores classificatórios como o sexo, a
idade, a classe social, as categorias nosográficas ou qualquer outro atributo
ou característica psicológica dos sujeitos funcionam como variáveis independentes
passivas) constituem um caso típico de investigações não experimentais.
Autores — Os autores dos artigos publicados na
RPP foram classificados segundo três dimensões: sexo, grau académico
(não doutorados vs. doutorados) e afiliação.
Periodização
As mutações
institucionais que deram origem e marcaram a evolução da FPCE/UC constituem a
base para a determinação dos períodos de publicação da RPP. A opção por um
critério institucional de periodização, em detrimento de outros critérios
igualmente possíveis, encontra plena justificação na natureza da própria RPP:
publicação científica directamente ligada, em períodos sucessivos, a duas
Faculdades da Universidade de Coimbra (Letras e Psicologia e Ciências da
Educação).
Sendo assim, os
conteúdos, as orientações metodológicas e os autores dos artigos publicados na
RPP serão analisados ao longo de cinco grandes períodos: 1960-63, 1971-75,
1976-81, 1982-88 e 1989-95. Os dois primeiros períodos coincidem com a
ligação da RPP ao Instituto de Estudos Psicológicos e Pedagógicos da Faculdade
de Letras, do qual veio a sair a maioria dos membros da Comissão Instaladora do
Curso Superior de Psicologia, precursor da FPCE/UC. A separação entre os dois
períodos é, aqui, assinalada por um hiato de sete anos, em que a RPP não se
publicou.
O terceiro período
(1976-81) coincide, grosso modo, com a dura- [p. 12] ção do primeiro curso de Licenciatura
em Psicologia e com a autonomização real, ainda que não formal, da RPP em
relação à Faculdade de Letras, o que só veio a acontecer em 1981, na sequência
da transformação do Curso Superior de Psicologia em FPCE/UC, ocorrida em 1980.
A fronteira entre o terceiro e o quarto período (1982-88) é assinalada
pelo Vol. 16 de 1982, em que surgem os primeiros artigos publicados por
psicólogos recém-formados pela FPCE/UC.
Por último, o quinto
período (1989-95) é marcado por dois acontecimentos principais: a partir de
1988, a FPCE/UC começa a publicar, em simultâneo com a RPP, a revista Psychologica,
visando prioritarimente a divulgação da investigação no domínio da psicologia;
no ano lectivo de 1990/91, tem início o primeiro curso da Licenciatura em
Ciências da Educação.
RESULTADOS
Domínios de
investigação
No Quadro 2, tendo como critério o sistema de
indexação do Psychological Abstracts, classificam-se por subdisciplina
os artigos do domínio da psicologia publicados na RPP. Tendo por base o
número de artigos classificáveis (n = 336) e reduzindo para nove
categorias as rubricas do Quadro 2, registam-se as seguintes percentagens
para as diferentes áreas de investigação: 41.1 (psicologia da educação — rubrica
15), 14.6 (psicologia clínica — rubricas 12 e 13), 10.4
(psicologia do desenvolvimento — rubrica 8), 6.8 (psicologia social — rubricas
9 e 10), 6.0 (psicologia geral — rubrica 1), 5.7 (psicometria
— rubrica 2), 5.4 (psicologia experimental — rubricas 3 e 4),
3.9 (psicologia aplicada — rubrica 16) e 6.2 (outras áreas — rubricas
5, 6, 7, 11, 14 e 17).
No Quadro 3, classificam-se por subdisciplina
(sistema de Mialaret, 1976) os artigos do domínio das ciências da educação. Tendo, igualmente,
por base o número de artigos classificáveis (n = 236) e reduzindo para
cinco categorias as rubricas do Quadro 3, registam-se as seguintes percentagens
para as diferentes áreas de investigação: 34.7 (psicologia da educação — rubrica
3), 23.7 (ciências da didáctica, ciências dos métodos e técnicas e ciências
da avaliação — rubrica 5), 21.6 [p. 13] (história da educação — rubrica 1), 15.3 (filosofia da educação — rubrica
6) e 4.7 (outras áreas — rubricas 2, 4 e 7).
Por último, utilizando
a classificação da JNICT, da totalidade dos [p. 14] artigos classificáveis (n =
425), 60.0% pertencem ao domínio da psicologia e 40.0% ao domínio da
pedagogia (para os subdomínios, cf. Quadro 4).
Para uma visão de
conjunto dos domínios de investigação, resumem-se, no Quadro 5, as classificações utilizadas nos Quadros 2 e 3. Conforme se pode observar, a psicologia
(excluindo o subdomínio da psicologia da educação) domina os três últimos
períodos (respectivamente, 53.6%, 50.0% e 50.3% da totalidade dos artigos
publicados), ao passo que as ciências da educação (excluindo a rubrica
15b da psicologia da educação, mas incluindo a rubrica 15a da
mesma disciplina — cf. Quadro 2) são maioritárias nos dois primeiros períodos
(respectivamente, 57.5% e 55.8% da totalidade dos artigos publicados). [p. 15]
Com o objectivo de
fornecer uma perspectiva mais pormenorizada da evolução dos contéudos da RPP,
procedeu-se a uma análise de correspondência simples (ANACOR — SPSS, 1990) entre períodos de
publicação (1960-63, 1971-75, 1976-81, 1982-88 e 1989-95) e domínios de
investigação, agregados em doze categorias: psicologia geral (rubrica
1 do Quadro 2),
psicometria (rubrica 2 do Quadro 2), psicologia experimental (rubricas 3 e 4 do
Quadro
2), psicologia
do desenvolvimento (rubrica 8 do Quadro 2), psicologia social (rubricas 9
e 10 do Quadro 2),
psicologia clínica (rubricas 12 e 13 do Quadro 2), psicologia da educação
(rubrica 15b do Quadro 2 =
rubrica 3 do Quadro 3),
psicologia aplicada [p. 16]
(rubrica 16 do Quadro 2),
outros domínios da psicologia (rubricas 5, 6, 7, 11, 14 e 17 do Quadro 2), história da educação
(rubrica 1 do Quadro 3),
filosofia da educação (rubrica 6 do Quadro 3) e outros domínios das ciências da
educação [rubricas 2, 5 (= rubrica 15a do Quadro 2) e 7 do Quadro 3].
Das quatro dimensões
fornecidas pela análise de correspondência da tabela de contigência 5 x 12
(N = 425), retiveram-se para interpretação as duas primeiras, que,
conjuntamente, explicam 81.7% da inércia total. A primeira dimensão,
responsável por 45.4% da variabilidade, opõe, fundamentalmente, a psicologia
clínica à psicologia geral e aos «domínios residuais» das ciências da educação
(aqui constituídos, essencialmente, pela rubrica 5 do Quadro 3). Atendendo à posição relativa
das subdisciplinas psicológicas (das diversas especialidades para a psicologia
aplicada e, finalmente, para a psicologia geral), a primeira dimensão
corresponde, grosso modo, ao eixo especialização/generalidade. Este
eixo opõe, igualmente, os dois últimos períodos aos três primeiros períodos de
publicação da RPP (cf. Figura 1).
A segunda dimensão,
à qual cabem 36.3% da variabilidade, opõe a filosofia da educação à
psicologia geral, operando, igualmente, uma distinção clara entre os dois
primeiros e o terceiro período de publicação. Com base nas posições relativas
das diferentes subdisciplinas (da filosofia da educação e dos «domínios
residuais» das ciências da educa [p. 17] ção aos «domínios residuais» da psicologia, à psicologia social, à
psicologia aplicada e à psicologia geral), a segunda dimensão pode ser
conceptualizada como o eixo ciências da educação/psicologia.
Note-se, por último, que a psicologia da educação e a história da
educação são as subdisciplinas com menor inércia no conjunto das duas
dimensões, o que equivale a dizer que se trata dos domínios que têm
«comportamentos» mais uniformes ao longo dos períodos de publicação aqui
considerados (cf. Figura 1).
Orientações
metodológicas
Dos 449 artigos
analisados, 316 (70.4%) são estudos teóricos e/ou de revisão da literatura
científica, 29 (6.5%) são estudos empíricos [p.18] documentais e 104 (23.2%) são estudos empíricos não
documentais (cf. Quadro 6).
Dentro desta última categoria, registe-se que a quase totalidade (95 artigos)
são investigações não experimentais ou correlacionais. Tomadas em conjunto, as
investigações experimentais e quasi-experimentais correspondem a apenas 2.0% (9
artigos) do «material» publicado na RPP. [p. 19]
A análise por períodos
de publicação revela que os estudos teóricos são maioritários em todos os
períodos, assistindo-se, contudo, a uma diminuição substancial do primeiro
(97.5%) para o último período (60.2%) de publicação (cf. Quadro 6). Dado o peso reduzido das
investigações experimentais e quasi-experimentais, agregaram-se as orientações
metodológicas nas três categorias, cuja evolução se regista na Figura 2.
Autores
Os 449 artigos são
assinados por 550 autores. A percentagem de artigos com um só autor é de 84.9%.
A dois, três, quatro e cinco autores correspondem, respectivamente, 10.9%,
1.8%, 1.8% e 0.7% dos artigos (cf. Quadro 7) (3). Para a totalidade dos 449 artigos, a
média de autores por artigo é de 1.22 (DP = 0.63). As médias de autores por
artigo para os cinco períodos considerados (1960-63, 1971-75, 1976-81, 1982-88
e 1989-95) são, pela ordem indicada, 1.00 (DP = 0.00), 1.04 (DP =
0.19), 1.04 (DP = 0.19), 1.26 (DP = 0.62) e 1.38 (DP =
0.84). [p. 20]
Se excluirmos o Nº
3 do Vol. 29 (número temático em que todos os artigos são assinados
por uma mesma equipa de quatro autores), a média de autores por artigo para os
restantes 441 artigos é de 1.17 (DP = 0.50). Para o período de 1989-95,
no qual se inclui o referido número, a média baixa para 1.24 (DP =
0.56), sensivelmente idêntica à do período de 1982-88, e ambas claramente
superiores às médias dos três primeiros períodos, que, no conjunto, registam
144 artigos com um autor e apenas 4 artigos com dois autores. Note-se, contudo,
que, apesar do acréscimo de autores por artigo nos dois últimos períodos, as
percentagens de artigos com um só autor continuam a ser bastante elevadas:
80.7% e 77.0%, respectivamente, para 1982-88 e 1989-95.
No que diz respeito à
caracterização dos autores, a percentagem de homens, se tomarmos como critério
o sexo do primeiro autor, é de 76.4% para o conjunto dos 29 volumes. Tomando o
mesmo critério, e para o mesmo conjunto, a percentagem de autores doutorados é
de 54.1% (41.2% de não doutorados e 4.7% em que não foi possível de- [p. 21] terminar o respectivo grau académico).
Por último, e ainda com igual critério e conjunto de volumes, a percentagem de
autores ligados institucionalmente à FPCE/UC é de 46.5% (28.5% ligados a outras
instituições portugueses, 19.2% a instituições estrangeiras e 5.8% em que a
afiliação é desconhecida). Se se optar por incluir todos os autores dos artigos
em co-autoria (N = 550), as percentagens acima indicadas não sofrem
alterações significativas (cf. Figura 3). [p. 22]
A análise por período
de publicação revela que a percentagem de autores do sexo masculino, depois do
valor máximo (92.5%) atingido no período de 1960-63, desce para 64.3, em
1976-81, para voltar a subir até 77.0%, no último período considerado (cf. Quadro 8 e Figura 4A). A inclusão de todos os autores não
modifica o padrão de resultados (cf. Quadro 8).
Em relação às
qualificações académicas dos autores, depois de uma relativa estabilidade nos
três primeiros períodos (55.0%, 53.9% e 57.1% de doutorados), assiste-se a uma
quebra de doutorados no pe- [p. 23] ríodo
de 1982-88 (45.0%), para, em seguida (1989-95), se verificar uma evolução para
a taxa mais alta de doutorados: 60.9% (cf. Quadro 9 e Figura 4B). Contrariamente ao que acontece com o
sexo, a inclusão de todos os autores permite assinalar uma alteração
significativa ao padrão de resultados: no quarto período (1982-88) a
percentagem de doutorados desce ainda mais, situando-se nos 35.8%; no quinto
período, o mesmo valor sobe quatro pontos percentuais, de 60.9% para 64.9% (cf.
Quadro
9).
O estudo da evolução
das ligações institucionais dos autores da RPP revela, antes de mais, um padrão
de internacionalização relativamente curioso: de 50.0% de autores com afiliação
estrangeira no primeiro período, desce-se para menos de metade (21.2%) no
período seguinte e para cerca de um quinto nos terceiro e quarto períodos
(10.7% [p. 24] e 11.4%), registando-se no
último período uma percentagem (20.5%) semelhante ao segundo (cf. Quadro 10 e Figura 4C). A presença de autores ligados à FPCE/UC
é maioritária em todos os períodos à excepção do primeiro (cf. notas a
e b do Quadro 10),
ultrapassando os 50% nos terceiro e quarto períodos (53.6% e 61.4%). Convém,
igualmente, chamar a atenção para a elevada percentagem (28.9%) de afiliações
desconhecidas no segundo período, o que introduz alguma incerteza na comparação
com os restantes. Note-se, ainda, que a colaboração de autores ligados à
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (excluindo, obviamente, aqueles
que transitaram para a FPCE/UC — cf. notas a, b e d do Quadro 10) é nula nos dois últimos
períodos, enquanto atingia cerca de um décimo nos três primeiros (10.0%, 9.6% e
12.5%). Tal como acontece em relação ao sexo, a inclusão de todos os autores
não modifica significativamente o padrão de resultados.
DISCUSSÃO E
CONCLUSÕES
No conjunto dos 29
volumes analisados, a RPP publicou 44.1% de artigos de psicologia, 32.3%
de artigos de ciências da educação e 18.3% de artigos de psicologia
da educação. Predominaram os estudos teóricos e de revisão da literatura
(70.4%), realizados por um só autor (84.9%) do sexo masculino (76.4%). A
percentagem de autores doutorados foi de 54.1% e a de docentes da FPCE/UC de
46.1%.
No que diz respeito
aos domínios de investigação, a análise por períodos de publicação revelou que
a psicologia, ainda que se exclua a psicologia da educação, dominou, com
percentagens superiores a 50.0%, os três períodos mais recentes (1976-81,
1982-88 e 1989-95), ao passo que as ciências da educação foram maioritárias nos
dois primeiros períodos (1960-63 e 1971-75). Uma segunda tendência aponta para
a crescente especialização, tendo as diversas subdisciplinas psicológicas vindo
a ocupar o lugar da psicologia geral.
No campo das
orientações metodológicas, observa-se uma evolução assinalável no sentido das
investigações empíricas, o que não impede que os estudos téoricos e/ou de
revisão da literatura continuem a ser maioritários (60.2%) no último período
considerado. De notar, [p. 25] ainda,
a quase ausência (2.0%) de estudos experimentais ou quasi-esperimentais.
Por último, no
capítulo dos autores, se compararmos os dois primeiros (12.0%) com os três
últimos períodos (26.6%), regista-se uma tendência para a «feminização»;
contudo, se retivermos apenas os dados posteriores a 1975, a percentagem de
autores do sexo feminino tem vindo a diminuir (de 35.7% no terceiro período
para 23.0% no quinto período). Registam-se, igualmente, tendências para a
co-autoria e, se ignorarmos as percentagens anormalmente elevadas de autores
estrangeiros nos dois primeiros períodos, para a «abertura ao exterior» e
«internacionalização» (em particular, na passagem do quarto para o quinto
período). Excluindo o quarto período, as percentagens de autores doutorados
têm-se mantido acima dos 50%.
Os padrões de
publicação acima sumariados reflectem, mais ou menos directamente, a matriz
institucional da RPP, desde a formação académica de base e preocupações
científicas do corpo de docentes e investigadores que esteve na sua origem — e
marcou, de forma decisiva, a sua evolução — até à sobredeterminação dos
critérios de selecção/filtragem de artigos a publicar pelas redes de
comunicação formal e informal que ligaram as sucessivas Comissões de Redacção às
comunidades científicas nacional e internacional. É, aliás, a ligação informal
do seu primeiro coordenador (Prof. Doutor Émile Planchard) à comunidade
internacional — e, certamente, o reduzido número de «especialistas» portugueses
nos domínios das ciências da educação e da psicologia — que explica as elevadas
percentagens de afiliação estrangeira nos dois primeiros períodos de
publicação.
A evolução da taxa de
feminização, apesar do aumento substancial das «publicações no feminino» no
conjunto dos três últimos períodos, não reproduz as tendências recentemente
identificadas na comunidade científica nacional (cf. Amâncio & Ávila, 1995). De notar, igualmente, que a
quebra de autores doutorados no quarto período corresponde ao aumento
substancial da «quota» de não doutorados no corpo docente e investigadores da
FPCE/UC; os valores superiores no último período são consonantes com a
«progressão académica» e estabilização do referido corpo.
No que diz respeito às
áreas de publicação, o «domínio» da psi- [p. 26] cologia nos três últimos períodos resulta, obviamente,
da formação básica e especializada da maioria dos investigadores da FPCE/UC que
têm vindo a publicar na RPP. Tal formação repercute-se, igualmente, na
subordinação progressiva da psicologia geral às diversas subdisciplinas
psicológicas, observando-se um certo paralelismo entre a especialização
progressiva no domínio dos conteúdos e o aumento de estudos empíricos no plano
metodológico. Finalmente, se tivermos em conta as opções dominantes em termos
de investigação empírica, a RPR inscreve-se, tal como acontece com a
generalidade das revistas portuguesas de psicologia e educação, na tradição não
experimental.
NOTAS
(1) Na prática, no período de 1976-80, a RPP foi
publicação do então Curso Superior de Psicologia da Universidade de Coimbra,
transformado em Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, em 1980. De
1960 a 1963 e de 1971 a 1975, a coordenação da RPP coube a Émile Planchard; em
1976 e 1977, a mesma tarefa esteve a cargo de Joaquim Ferreira Gomes. Depois desta
data, integraram a Comissão de Redacção da RPP os seguintes docentes e
investigadores da FPCE/UC: Joaquim Ferreira Gomes — coord. —, José Pires
Ferreira da Silva, Aura Montenegro Ferrão, Nicolau de Almeida Vasconcelos
Raposo e Manuel Viegas Abreu (1978-80); Joaquim Ferreira Gomes — coord. —, José
Pires Ferreira da Silva, Aura Montenegro Ferrão, Nicolau de Almeida Vasconcelos
Raposo, Manuel Viegas Abreu e António Simões (1981); Joaquim Ferreira Gomes —
coord. —, José Pires Ferreira da Silva, Aura Montenegro Ferrão, Nicolau de
Almeida Vasconcelos Raposo, Manuel Viegas Abreu, António Simões e Carlos Amaral
Dias (1982-86); António Simões — coord. —, Mário Rodrigues Simões e António
Gomes Ferreira (1987-88); António Simões — coord. —, João José Boavida e António
Gomes Ferreira (1989-90); João José Boavida — coord. —, Maria da Graça Bidarra
e António Gomes Ferreira (1991-92); João José Boavida — coord. —, José Augusto
Rebelo, António Castro Fonseca, Maria da Graça Bidarra, António Gomes Ferreira,
Carlos Folgado Barreira, Maria Helena Damião e Maria Filomena Gaspar (1993-94);
Maria da Graça Bidarra — coord. —, João José Boavida, Joaquim Armando Ferreira,
Maria Isabel Festas, António Gomes Ferreira, Carlos Folgado Barreira, Maria
Filomena Gaspar e José Joaquim Marques da Costa (desde 1995 até ao presente
número). A partir de 1987, os membros doutorados do Conselho Científico da
FPCE/UC passaram a constituir a Comissão Científica da RPP.
(2) Ainda que os artigos do Vol. 30 constem dos
índices que integram este número da RPP, excluímo-los da análise, optando por
considerar apenas os volumes completos à data da redacção do presente artigo.
(3) Uma questão diversa daquela que aqui abordamos é a do
número de autores que já publicaram na RPP. Com efeito, tomando como critério o
primeiro autor, os 449 artigos são assinados por 182 autores diferentes
(118 assinam um só artigo, 42 assinam entre dois e três artigos, 16 assinam
entre quatro e dez artigos e 6 assinam mais de dez artigos).
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Almedina.
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